Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/10316/24076
Título: A re-invenção do lugar
Autor: Orêncio, Joana 
Orientador: Lousa, António
Palavras-chave: Aldeamento Patacão de Cima; Cultura Avieira; Escaroupim
Data: Jun-2013
Citação: Orêncio, Joana Domingues - A re-invenção do lugar : na proposta sobre dois aldeamentos avieiros.Coimbra, 2013
Resumo: Depois de um ensino em arquitectura levado por uma série de projectos muito abstractos, fui confrontada com um olhar para uma realidade muito específica na cadeira Townhouse in a Foreign Culture, que fiz durante o programa Erasmus, no ano lectivo 2010/11. Esta cadeira tinha como objectivo a elaboração de um projecto de arquitectura com programa à nossa escolha, na cidade de Lhasa, no Tibete. Para isso tive a oportunidade de passar dois meses naquela região, em que metade desse tempo foi gasto em viagens e investigação sobre a cultura tibetana. Era imperativamente importante conhecer o contexto antes de propor qualquer tipo de projecto. Foi muito interessante sair dos livros da biblioteca e dos esquissos do estirador para ir ao terreno conhecer as pessoas, os seus hábitos e vivências, de forma a poder perceber aquela realidade e o que realmente ali era necessário. Tive de aprender a interpretar essas necessidades pela análise do contexto, através de avaliações que iam desde o estudo urbano ao contacto directo com o interior das habitações e com diferentes realidades familiares. O projecto partiu das reflexões dessas avaliações e teve um importante papel no confronto entre aquilo que a nossa formação ocidental podia oferecer numa realidade completamente diferente e tão específica. Foi a experiência no local que me fez perceber o quão importante é esse confronto com a realidade na prática de arquitectura, porque é daí que o projecto se adequa à realidade inserida. Era importante para mim, nesta dissertação, ter um pedaço escrito e de reflexão sobre aquilo que acredito na arquitectura, de forma a poder confrontar-me com alguns aspectos que defendo. Para isso, era importante poder ter uma situação real de projecto para fugir às abstracções programáticas que tive ao longo do percurso académico, e para pôr em prova esses aspectos que defendia em teoria. Queria renovar a minha consciência e responsabilidade social, tal como Octávio Filgueiras propõe aos seus alunos na década de 60 na Escola de Belas Artes do Porto com a cadeira de arquitectura analítica. Filgueiras punha-os face a realidades concretas para lhes incutir uma renovada consciência e preparar para uma correcta profissionalização. Foi isso que procurei também. Se no início pensei que o melhor seria ir para um país em desenvolvimento, pelo choque de culturas e para poder trabalhar num contexto de comunidade com um fim muito útil e prático, depressa me apercebi que em Portugal ainda há muito que desconheço e sobretudo muito onde os arquitectos têm que reflectir e actuar. Isso ganha mais pertinência nesta altura em que o país parece parado pela crise económica que se instalou porque as necessidades são evidentes e muito é preciso ser feito. Acabei por encontrar a oportunidade que achei adequada para esse fim muito facilmente. Em Setembro de 2011, no encontro internacional dos Arquitectos Sem Fronteiras (ASF) em Lisboa, fez-se uma reflexão sobre o papel da arquitectura na sociedade e na qualidade do habitat humano. Vi, nos projectos apresentados, um carácter social e humano que me interessou bastante e por isso aproveitei para, de acordo com as suas necessidades, os poder ajudar e associar um projecto prático a esta dissertação. Acabei por achar muito interessante trabalhar sobre a Cultura Avieira, que está neste momento num processo de candidatura a património nacional imaterial e da Unesco. Os Arquitectos Sem Fronteiras de Portugal (ASFP) estão a trabalhar especificamente sobre o património material dessa cultura e necessitam de ajuda no processo de reabilitação dos aldeamentos. Estes são constituídos por casas de madeira elevadas do solo, construídas por pescadores no anos 70/80 ao longo do rio Tejo e rio Sado. É um património riquíssimo que está a desaparecer devido à precariedade das suas construções e falta de uso. É, portanto, urgente e muito pertinente fazer levantamentos do material construído de forma a registar os locais em desaparecimento para ganhar ferramentas para a elaboração de projectos de reabilitação dos espaços. Foi a partir dessa oportunidade que este presente trabalho ganhou forma e duas componentes essenciais. Uma teórica, que procura uma reflexão que completa a experiência e realidade vivida e, uma outra prática, de projecto que condensa algumas das conclusões geradas ao longo deste processo. Como metodologia visitei a maioria dos aldeamentos e seleccionei dois que achei pertinentes para trabalhar em projecto. Elaborei os levantamentos dos aldeamentos Patacão de Cima e Escaroupim - o primeiro em parceria com a minha colega Lara Borges que também propõe um projecto para o mesmo local na sua tese de mestrado. Fiz, durante quase todos os meses até aqui, visitas aos locais, de forma a perceber a morfologia dos mesmos durante as diferentes estações do ano e a sua evolução ou degradação com o passar do tempo. Durante todo este processo houve uma aproximação aos locais, às pessoas que os habitam, às pessoas que estão envolvidas neste processo de candidatura e às autarquias e entidades públicas envolvidas. Isso ajudou-me a encontrar as ferramentas para resolver diferentes frentes de projecto. Houve uma aproximação teórica e de análise sobre a cultura aveira para entrar no processo de projecto, que foi acompanhado pela leitura de alguma bibliografia sobre intervenção em património e metodologias de trabalho adoptadas em casos semelhantes. Durante o processo de projecto o entendimento e paixão que ganhei pelos locais foram moldados pela ideia de os reinventar, deixando-os sobreviver ao tempo - a partir da beleza da sua arquitectura, da tranquilidade da natureza envolvente e pela riqueza das suas tradições. Foi essa a intenção de todo o trabalho e daí que partiu o título desta dissertação. “Re-inventar o lugar” a partir de uma perspectiva diferente daquela que hoje vemos e que está a deixar morrer esta cultura. No primeiro capítulo começa-se por fazer uma análise da primeira metade do século XX, pela Europa e pelo caso português, para chegar à conclusão que a arquitectura não se deve desassociar das raízes e camadas, porque é essa memória que confere a identidade dos locais. Esse é o ponto de partida para uma pequena reflexão sobre os desafios da arquitectura nos dias que correm porque, mais do que construir de novo, deve haver uma readaptação e reinvenção da arquitectura já existente. O modo de viver e construir os espaços deve ser redefinido e os arquitectos têm que se reposicionar. No segundo capítulo a atenção é focada sobre o tema do património avieiro, a partir de uma perspectiva arquitectónica. Depois de estudar as suas origens, partiu-se para uma análise territorial sobre todo o património avieiro espalhado ao longo do rio Tejo. Foi importante compreender a arquitectura desta cultura desde a sua implantação no território até à sua escala de construção, passando pela compreensão das dinâmicas de cada aldeamento de forma a ganhar bases para o projecto que se seguia. O terceiro capítulo apresenta a proposta prática de intervenção sobre esses dois aldeamentos avieiros, um desabitado e outro habitado, o que desenha realidades completamente diferentes. Foi muito interessante desencadear uma reflexão sobre essa dicotomia para perceber as formas de actuar perante a realidade avieira. Durante o capítulo são relatadas experiências deste processo, o contacto com o local, com as pessoas, as percepções e paixões desenvolvidas que não se limitam ao campo arquitectónico. Deparar-me com limitações reais, gerir diferentes frentes, conhecer pessoalmente o público-alvo, foram características que queria que fizessem parte desta reflexão para me aproximar da realidade de uma prática que levarei por aqui em diante. Dar o salto para uma realidade que precisa de estratégias dinamizadoras do espaço existente foi a oportunidade que achei adequada para abrir os meus horizontes e transformar a minha maneira de ver os locais como arquitecta.
Descrição: Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.
URI: https://hdl.handle.net/10316/24076
Direitos: openAccess
Aparece nas coleções:UC - Dissertações de Mestrado
FCTUC Arquitectura - Teses de Mestrado

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