Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/23317
Title: Memórias deslocadas
Authors: Santos, Ana Sofia 
Orientador: Figueira, Jorge
Keywords: Arquitectura, Portugal, Séc.20; Arquitectura, Holanda, séc. 20; Amaral, Keil do, 1910-1972, obra; Siza, Álvaro, 1933- , obra
Issue Date: Dec-2012
Citation: Santos, Ana Sofia Vaz - Memórias deslocadas : experiências de Keil do Amaral e Álvaro Siza entre Portugal e a Holanda. Coimbra, 2012
Abstract: Ao percorrer a cidade de Amesterdão sobressai a unidade da construção e a escala acolhedora, contrastando estranhamente com a condição de capital europeia. É curioso rever esta experiência urbana nos textos de Keil do Amaral sobre a Holanda nos anos 1930, ainda que embebidos num deslumbramento difícil de repetir nos dias de hoje. O sentido de ordem e unidade evidencia-se ainda em Haia, onde os projectos de Álvaro Siza de 1980/90 se dissolvem num gesto de anonimato deliberado. Os dois arquitectos portugueses chegam à Holanda por motivos distintos. O primeiro visita o país em viagem, inicialmente por iniciativa própria e posteriormente no âmbito de um estudo sobre parques verdes, centrando-se nas cidades de Amesterdão e Hilversum. O segundo é convidado para elaborar um projecto de reabilitação urbana na periferia de Haia e desenvolver dois projectos de habitação colectiva e um projecto de duas moradias. A presente dissertação propõe uma análise sobre práticas arquitectónicas entre Portugal e a Holanda, estabelecendo um paralelo entre duas geografias através dos métodos de projecto de Keil do Amaral e Álvaro Siza. A escolha de duas experiências com lugar neste país de terras baixas parte de um interesse pessoal pelas diferenças que actualmente se evidenciam no entendimento da disciplina nos dois contextos, tendo levantado questões que contribuíram para a minha formação. Considerando o erro que a generalização necessariamente contém, a arquitectura portuguesa demonstra uma maior maturação relativamente ao passado e ao significado das formas e dos espaços, enquanto a arquitectura holandesa evidencia estratégias mais próximas da conceptualização e da inovação tecnológica. São interpretações pessoais, que remetem respectivamente para respostas sobre o significado do espaço («saber porquê») e sobre a resolução técnica do espaço («saber como»). Contudo, a revisão da arquitectura portuguesa, nos anos 1930/40 e nos anos 1970/80 através do olhar crítico sobre o contexto holandês de Keil do Amaral e Álvaro Siza, detém uma especificidade própria dos tempos em que as experiências ocorreram. Alves Costa destaca “as figuras de Keil do Amaral, Fernando Távora e Siza Vieira, talvez de outros, como portadores de consciência da permeabilidade recíproca dos discursos fundamentando racionalidades plurais, sendo as suas obras, elas próprias, pelas quais deverão ser julgadas e não pela aplicação de categorias conhecidas.”2 Keil do Amaral e Álvaro Siza representam duas gerações muito particulares do contexto nacional, transparecendo questões relativas à arquitectura portuguesa nas suas interpretações sobre as experiências na Holanda. Enquanto as viagens de Keil do Amaral se enquadram no contexto de ditadura em Portugal, sendo muito limitados os contactos com o exterior; os projectos de Álvaro Siza correspondem a um período de maior abertura ao contexto internacional e reconhecimento da arquitectura portuguesa. Tendo em consideração as transformações arquitectónicas em dois momentos no contexto português e holandês, questiona-se sobre o poder das contaminações ocorridas através de itinerários individuais. A convicção de que o jogo entre referências do arquitecto e realidade colectiva constitui um factor determinante para o resultado arquitectónico conduz ao tema da memória. Este é um conceito valorizado depois da Segunda Guerra Mundial, enquanto tema participante no exercício de projecto, contudo, o debate com a realidade que antecede o projecto foi recorrentemente um tema presente, consciente ou inconscientemente, nas experiências de Keil do Amaral e de Álvaro Siza. Com efeito, o acto criativo implica a exposição da individualidade, associada à memória individual, perante a realidade colectiva que engloba contexto físico, cultura, história, comunidade, sistema político e económico. Apesar de se reconhecer na actualidade a relativização da questão autoral, sendo cada vez mais premente o trabalho colaborativo, importa não destituir de significado o imaginário individual do arquitecto. Nesta ordem de ideias, importa sublinhar que: “A Arquitectura enquanto expressão criativa, a par com outras artes, será sempre o resultado de processos complexos, transdisciplinares, intuitivos que implicam na sua expressão autoral e poética o confronto saudável entre objectividade e subjectividade, entre ciência e arte, entre regra e excepção.”3 Nos primeiros dois capítulos desenvolve-se a análise da actividade na Holanda dos dois arquitectos separadamente, incorporando a contextualização do momento anterior à «partida» e o posterior ao «regresso». As duas sequências cronológicas têm como momento central a experiência holandesa de cada um, correspondendo ao desvio do referencial de origem. É necessário considerar que o «antes» e o «depois» cingem-se aos aspectos que contribuíram para a experiência central e àqueles que dela decorreram. Numa leitura linear das diversas experiências, ou seja, atendendo ao seu valor enquanto parte da formação, é possível compreender a cadeia de dependências que, cumulativamente, contribui para o arquivo mental do arquitecto. A base factual da análise assenta na informação gráfica dos projectos realizados e visitados e, essencialmente, nos discursos de cada um dos arquitectos em entrevistas ou textos próprios. No terceiro capítulo introduz-se a ideia de memória no âmbito da viagem, atendendo às circunstâncias de contaminação cultural inerentes à prática arquitectónica. Distingue-se este conceito enquanto arquivo mental do arquitecto e enquanto construção colectiva aplicada à arquitectura. No plano individual, destacam-se os mecanismos relativos à memória e percepção, e a presença destes mecanismos na transformação do real; no plano colectivo, a ideia de memória como concepção partilhada é interpretada no âmbito do pensamento arquitectónico dos anos 1920 aos anos 1980. Retomando a citação inicial de Herberto Hélder, a memória no âmbito do projecto é entendida como experiência, individual ou colectiva, que adquire operacionalidade perante a condição presente. Tendo em conta a visão dos dois arquitectos em causa sobre a noção de memória em arquitectura, procede-se, por fim, à interpretação dos percursos entre Portugal e a Holanda. Salienta-se a movimentação de referências de Keil do Amaral de Amesterdão e Hilversum para os projectos de parques verdes em Lisboa; e a contaminação da experiência e referências de Álvaro Siza, inerentes aos projectos de habitação social em Portugal, para os que realiza em Haia. A compreensão das múltiplas influências convergentes no projecto permite relacionar empatias e contrastes evidenciados entre a arquitectura portuguesa e holandesa, destacando-se os temas inerentes à cidade, à metodologia e técnica e à concepção espacial e formal. O significado da memória para Keil do Amaral e Álvaro Siza consiste numa linha orientadora da análise dos contrastes entre forças individuais e colectivas presentes nos três temas especificados.
Description: Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.
URI: https://hdl.handle.net/10316/23317
Rights: openAccess
Appears in Collections:UC - Dissertações de Mestrado
FCTUC Arquitectura - Teses de Mestrado

Files in This Item:
File Description SizeFormat
Memórias deslocadas.pdf51.78 MBAdobe PDFView/Open
Show full item record

Page view(s) 10

969
checked on Mar 26, 2024

Download(s) 50

527
checked on Mar 26, 2024

Google ScholarTM

Check


Items in DSpace are protected by copyright, with all rights reserved, unless otherwise indicated.