Crescimento, corpulência, prática desportiva e dispêndio energético em adolescentes

Abstract

Objetivos: A presente tese de doutoramento teve como principais objetivos: a) determinar a prevalência de excesso de peso e obesidade em jovens escolares masculinos dos 15 aos 18 anos de idade do Vale do Mondego, examinando a variação entre 1997 e 2011; b) comparar adolescentes masculinos que participam e nunca experimentaram o desporto organizado, tendo como pontos de interesse as medidas de crescimento e morfologia externa, estilo de vida habitual e aptidão cardiorrespiratória; c) prolongar o objetivo a adolescentes femininas, considerando aquelas que participam, participaram e nunca experimentaram o desporto organizado tendo os mesmos pontos de interesse; d) perceber os motivos que conduzem os adolescentes à prática desportiva ou à interrupção da mesma; e) perceber o desporto organizado como elemento contribuinte da equação do dispêndio energético diário em adolescentes femininas; Material e métodos: A amostra do estudo um foi constituída por 420 adolescentes masculinos (16.6±0.89 anos). A classificação do estado nutricional dos adolescentes foi realizada com recurso ao IMC e teve por base três critérios de diagnóstico (IOTF, CDC e OMS). A análise de dados foi realizada recorrendo à prova t-student e ao teste de independência do Qui-quadrado. As amostras dos estudos dois e três foram compostas, respetivamente, por 100 adolescentes masculinos e femininos, com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos. Em ambos os estudos, a atividade física habitual foi determinada com o recurso ao diário de 3 dias. A aptidão física foi avaliada utilizando os testes de dinamometria manual, impulsão horizontal, sit-ups em 60 seg., 20 m vaivém e o senta e alcança, no caso dos rapazes, enquanto para as raparigas, utilizamos a dinamometria manual, 20 m vaivém e os sit-ups em 60 seg.. Por fim, a avaliação dos estímulos sociais para a prática desportiva foi realizada tendo por base um inventário de estímulos sociais para a atividade física e estilo de vida. Na análise de dados recorremos à estatística descritiva, e à utilização da prova t-student e do teste de independência do Qui-quadrado. No estudo quatro, a amostra foi composta por 168 adolescentes, entre os quais 90 rapazes e 78 raparigas já estiveram envolvidos em desporto organizado, e destes 47 rapazes e 43 raparigas reportaram o abandono do desporto organizado. Na identificação dos motivos para a prática recorremos ao questionário de motivos para a participação desportiva, enquanto a avaliação dos motivos para o abandono das atividades desportivas foi realizada utilizando o inquérito de motivações para a ausência de atividade desportiva. Na análise de dados utilizamos a estatística descritiva e a comparação entre grupos foi efetuada através da utilização da prova t-student. Adicionalmente, utilizamos a análise fatorial de variância para testar o efeito do sexo e do estatuto de participação desportiva nos itens dos questionários (QMAD e IMAAD). A extração de componentes principais resultou da utilização da análise com rotação varimax. O critério mínimo de seleção dos itens nas componentes foi de 0.40. O quinto estudo analisou cerca de 115 adolescentes femininas, com idades compreendidas entre os 11.5 e os 15.4 anos. A atividade física habitual foi determinada com o recurso a um diário de 3 dias e à acelerometria uniaxial. A avaliação da ingestão alimentar teve por base a aplicação de um questionário semi-quantitativo de frequência alimentar. A avaliação da aptidão física foi realizada utilizando os testes de senta e alcança, sit-ups em 60 seg., 20 m vaivém e a milha. A análise de dados considerou a estatística descritiva geral e o estatuto associado aos subgrupos de interesse através da análise da variância. A análise estatística dos cinco estudos teve um nível de significância estabelecido nos 5%. Conclusões: A prevalência de excesso de peso e obesidade, verificada pela classificação do IMC, é acompanhada por diferenças significativas da composição corporal ao nível da massa gorda entre adolescentes do Vale do Mondego. Para os adolescentes do meio não urbano, o ambiente construído sugere tempos livres com igual acessibilidade a equipamentos, onde para se ser saudável não é necessário ser atleta. Os programas de desporto organizado não devem dispensar uma componente mais recreativa e menos centrada na vitória. É fundamental o envolvimento dos pais, enquanto suporte relevante da participação desportiva, e uma estreita relação entre a escola e a instituição desportiva, que permita uma conciliação de interesses e uma melhor gestão de tempo. O desporto organizado aparenta ser uma componente importante do dispêndio energético diário das adolescentes femininas, e que poderá ter um papel relevante na promoção de estilos de vida ativos entre a população juvenil.