Impacto da eutrofização nas comunidades macrobentónicas do braço sul do estuário do Mondego (Portugal)

Abstract

Os processos de eutrofização são comuns em sistemas costeiros e, também em Portugal, têm vindo a aumentar no decorrer da última década. O estuário do Mondego é um dos casos mais representativos deste fenómeno. Admite-se, que o processo de eutrofização em curso no Braço Sul do estuário seja uma consequência da descarga excessiva de nutrientes no sistema, proveniente de actividades humanas. Este fenómeno poderá alterar a estrutura das comunidades bentónicas e originar mudanças quer quantitativas, as quais se reflectem nos processos produtivos, quer, frequentemente, qualitativas, envolvendo alterações da composição específica das comunidades e da própria estrutura da cadeia trófica, em função da substituição dos produtores primários. Os resultados obtidos no decorrer do presente trabalho permitiram : a) calcular a quantidade de nutrientes descarregada no Braço Sul, considerada como causa directa do processo de eutrofização que tem vindo a verificar-se ; b) demonstrar que os factores físico-químicos e biológicos dominantes nos bancos de Zostera noltii e nas zonas mais interiores do Braço Sul, onde ocorrem "blooms" macroalgais, são claramente diferentes ; c) Que os bancos de Zostera noltii constituem comunidades altamente produtivas e com uma riqueza específica mais elevada, quando comparadas com outras comunidades adjacentes. Pois, da análise global dos valores biomassa, densidade dos organismos, diversidade específica e exergia, foi clara a ocorrência de enormes diferenças em termos espaciais (ao longo do gradiente de eutrofização) e sazonais, nomeadamente em virtude da ocorrência do "bloom" na área mais eutrofizada, do não aparecimento de algas no Braço Sul no ano seguinte, e do decréscimo de biomassa de folhas de Z. noltii na Primavera de 1994 ; d) Que diferentes espécies de crustáceos são diferentemente afectadas pela ocorrência de "blooms" macroalgais nas zonas mais interiores do estuário. Pois a biomassa algal influenciou de forma sensível a variação espacial e temporal da densidade de Melita palmata e Ampithoe valida no estuário do Mondego, mas não influenciou tão evidentemente a população de Cyathura carinata.