Ossículos suturais na Coleção de Esqueletos Identificados Século XXI: observação em tomografias computadorizadas.

Abstract

Os ossículos cranianos são uma variação anatómica associada a centros de ossificação extra. Causas ambientais e genéticas são apontadas como responsáveis pelo surgimento destes. Surgem frequentemente associados com anomalias no sistema nervoso central, fecho prematuro de certas suturas cranianas ou alterações patológicas como o raquitismo, a picnodisostose ou a osteogénese imperfeita. A identificação e quantificação destes ossos supranumerários e as variações que apresentam permitem diferenciar uma estrutura normal de uma potencialmente anómala, evitando erradas interpretações quer em contexto forense quer em intervenções cirúrgicas. Os ossículos para além de poderem ser observados diretamente em crânios, podem também ser observados através de tomografias computadorizadas e de reconstruções tridimensionais. Deste modo, é expectável alguma relevância dos ossículos suturais aquando do processo de identificação em contextos forenses. Os objetivos deste trabalho passam por determinar a frequência, tamanho e localização de ossículos cranianos numa amostra da Coleção de Esqueletos Identificados Século XXI (CEI/XXI), da Universidade de Coimbra e relacionar estas variáveis com o sexo, a idade à morte e parâmetros craniométricos (índice cefálico). Pretende-se ainda comparar a informação recolhida da observação macroscópica direta com a análise imagiológica para compreender a utilidade da utilização de reconstruções tridimensionais feitas a partir de tomografias computadorizadas (TCs).A amostra compreendeu 268 indivíduos adultos da CEI/XXI, 148 do sexo feminino e 120 do sexo masculino, com idade compreendidas entre os 28 e os 101 anos. Foram apenas considerados crânios completos e observáveis, excluindo casos de autópsias e com destruição tafonómica considerável. A reconstrução tridimensional foi efetuada para todos os indivíduos da amostra com TCs disponíveis (n=194) e a observação comparativa foi efetuada nestas reconstruções. As imagens analisadas nesta segunda observação foram obtidas através das TCs, com recurso aos softwares TIVMI,3D slicer e Meshlab. Os ossículos identificados nas duas observações foram anotados numa folha de registo, para depois serem analisados com recurso a software SPSS. Registou-se um total de 221 ossículos na observação direta dos crânios, 133 dos quais(60,2%) na sutura lambdática. As frequências mais baixas foram registadas no bregma, sutura escamosa, osso do inca e ossículos occipitomastóides, representando em conjunto um total de 13 ossículos relativamente a todos os indivíduos da amostra (n=268). O número de crânios com pelo menos um ossículo foi de 100 (37,3%). O número de ossículos por crânio variou entre um e 12 (média=2,2; d.p.=2,1). No geral, a frequência de ossículos diminui com a idade e não foram detetadas diferenças significativas entre sexos nem entre categorias do índice cefálico relativamente à presença/ausência de ossículos. Quando se compararam os resultados da observação direta com o da análise das reconstruções 3D verificou-se um decréscimo geral nos indivíduos com ossículos, e o próprio número de ossículos também diminui, na segunda observação, à exceção das suturas escamosa e sagital. É também de salientar que se observaram indivíduos com ossículos no lambda, sutura lambdática, sagital e escamosa, que não tinham sido identificados na observação direta dos crânios. Aparentemente, as reconstruções 3Defetuadas para a investigação, a partir de TCs, não permitem visualizar a totalidade dos ossículos observáveis a olho nu, podendo isto dever-se a muitos fatores, como são exemplos as técnicas de reconstrução utilizadas e a própria resolução das TCs.

Cranial ossicles are an anatomical variation associated with extra ossification centers. Environmental and genetic causes have been identified as responsible for their appearance. They are often associated with central nervous system anomalies, premature closure of certain cranial sutures or pathological changes such as rickets, pycnodysostosis or osteogenesis imperfecta. The identification and quantification of these supernumerary bones and the variations they present allow the differentiation of a normal structure froma potentially anomalous one, avoiding misinterpretations both in forensic context and in surgical interventions. Ossicles can not only be observed directly in skulls, but also through computed tomography and three-dimensional reconstructions. Thus, some relevance of the sutural ossicles is expected in the identification process in forensic contexts.The aims of this work are to determine the frequency, size and location of cranial ossicles in a sample from the 21st Century Identified Skeletons Collection (CEI/XXI), University of Coimbra, and to relate these variables to sex, age at death and craniometric parameters (cephalic index). The aim is also to compare the information collected from direct macroscopic observation with imaging analysis to understand the usefulness of using three-dimensional reconstructions made from computed tomography (CT) scans.The sample comprised 268 adult individuals from CEI/XXI, 148 female and 120male, aged between 28 and 101 years. Only complete and observable skulls were considered, excluding cases of autopsies and with considerable taphonomic destruction.Three-dimensional reconstruction was performed for all individuals in the sample with available CT scans (n=194) and comparative observation was performed on these reconstructions. The images analyzed in this second observation were obtained from the CTs, using TIVMI, 3D slicer and Meshlab software. The ossicles identified in the two observations were recorded on a record sheet and then analyzed using SPSS software. A total of 221 ossicles were recorded in the direct observation of the skulls, 133 of which(60.2%) were in the lambdatic suture. The lowest frequencies were recorded in the bregma, squamous suture, inca bone and occipitomastoid ossicles, together representing a total of 13 ossicles for all individuals in the sample (n=268). The number of skulls with at least one ossicle was 100 (37.3%). The number of ossicles per skull ranged from oneto 12 (mean=2.2; s.d.=2.1). Overall, the frequency of ossicles decreased with age and no significant differences were detected between sexes or cephalic index categories regarding the presence/absence of ossicles. When comparing the results of the direct observation with the analysis of 3D reconstructions, there was a general decrease in individuals with ossicles, and the number of ossicles itself also decreases in the second observation, with the exception of the squamous and sagittal sutures. It should also be noted that individuals with ossicles were observed in lambda, lambdatic, sagittal and squamous sutures, which had not been identified in the direct observation of the skulls. It appears that the 3D reconstructions made for the investigation from CT scans do not allow the visualization of all the ossicles observable with the naked eye, and this may be due to many factors, such as the reconstruction techniques used and the resolution of the CT scans themselves.