Burnout nos estudantes de Medicina – Papel da personalidade e das competências emocionais

Abstract

Introdução: O burnout afeta 35 a 45% dos estudantes de medicina, sendo mais elevado nestes do que na população geral. Este curso pode atrair estudantes com níveis mais elevados de perfecionismo e neuroticismo, o que contribui para a diminuição da funcionalidade das estratégias de regulação emocional para lidar com o stresse gerado pelo seu exigente contexto académico.Objetivo: Analisar o papel de traços de personalidade e de competências emocionais nos níveis de burnout de estudantes de medicina.Materiais e métodos: 446 estudantes de medicina, a maioria das Universidades de Coimbra (42,8%) e Lisboa (29,6%), 81,2% do sexo feminino, reponderam a um questionário via Google Forms, que incluía os seguintes questionários validados: Escala de Burnout de Maslach para Estudantes, Escala de Perfeccionismo BIG3, HEXACO-60 e Questionários da Study on Social and Emotional Skills/SSES) da OCDE para avaliar persistência/perserverança, resiliência/resistência ao stress e controlo emocional.Resultados: Embora os níveis de emocionalidade negativa e perfeccionismo autocrítico sejam superiores no sexo feminino, o género não foi preditor de burnout. As medidas de Burnout correlacionaram-se significativa e positivamente com emocionalidade negativa, perfecionismo rígido, autocrítico e narcísico (este último apenas com exaustão emocional) e negativamente com extroversão e amabilidade. Revelaram-se preditores significativos de Burnout: Perfeccionismo Rígido, Perfeccionismo Autocrítico, Otimismo e Persistência/Perseverança, explicando 47.9% da variância; da exaustão emocional foram preditores o Perfecionismo Autocrítico e o Otimismo, explicando 39.8% da sua variância; Perfecionismo Autocrítico, Otimismo e Persistência/Perseverança foram os preditores da descrença, explicando 33.7% da sua variância. A eficácia académica correlacionou-se significativa e positivamente com a extroversão e o otimismo e negativamente com o perfecionismo autocrítico; apenas foram preditores a Extroversão e o Otimismo, explicando 21.4% da variância. Discussão: Dos traços da HEXACO, a extroversão parece ser o traço que tem uma maior preponderância na predição de burnout. Considerando todos os traços estudados, destaca-se o perfeccionismo. Em conjunto com as competências emocionais, os traços de personalidade, que, por sua vez, também se correlacionam com aquelas, explicam percentagens muito elevadas, de quase metade (47,9%) da variância, no caso da pontuação global de burnout.Conclusão: Confirma-se o papel do perfecionismo na etiologia do burnout, enfatizando a influência mais perniciosa do perfecionismo autocrítico. A extroversão e otimismo, podem ser relevantes como fatores protetores de Burnout, bem como, de um modo geral, as competências emocionais Persistência/Perseverança e Resiliência. Como forma de intervir no burnout, propõe-se a continuação na investigação de estratégias de intervenção que sejam eficazes na melhoria das competências emocionais.

Introduction: Burnout affects 35 to 45% of medical students, being higher in these than in the general population. This course can attract students with higher levels of perfectionism and neuroticism, which contributes to psychological distress and consequently decreased functionality of emotional regulation strategies needed to deal with the stress generated by their demanding academic context.Objectives: The present study aims to analyze the role of personality traits and emotional skills in the levels of burnout and psychological disturbance of medical students.Methods: The sample consisted of 446 participants, most from the University of Coimbra (42.8%, n=191) and the University of Lisbon (29.6% n=131). Of these, 362 (81.2%) were female. Participants reviewed a questionnaire via Google Forms, which included the following scales: Maslach Burnout Scale – Students, BIG3 Perfectionism Scale, HEXACO-60 and OECD Study on Social and Emotional Skills/SSES Questionnaires. Results: Although levels of negative emotionality and self-critical perfectionism are higher in females, gender was not a predictor of burnout. Burnout measures were significantly and positively correlated with negative emotionality, rigid perfectionism, self-criticism and narcissistic (the last only with emotional exhaustion) and negatively with extroversion and agreeableness. Significant predictors of Burnout were: Rigid Perfectionism, Self-critical Perfectionism, Optimism and Persistence/Perseverance, explaining 47.9% of the variance; Self-critical Perfectionism and Optimism were predictors of emotional exhaustion, explaining 39.8% of their variance; Self-critical Perfectionism, Optimism and Persistence/Perseverance were the predictors of disbelief, explaining 33.7% of its variance. Academic effectiveness was significantly and positively correlated with extroversion and optimism and negatively correlated with self-critical perfectionism; only Extraversion and Optimism were predictors, explaining 21.4% of the variance.Discussion: Of the HEXACO traits, extraversion seems to be the trait that has the greatest preponderance in predicting burnout. Considering all the studied traits, perfectionism stands out. Together with emotional competences, personality traits, which, in turn, also correlate with them, explain very high percentages, almost half (47.9%) of the variance, in the case of the global burnout score.Conclusion: The role of perfectionism in the etiology of burnout is confirmed, emphasizing the most pernicious influence of self-critical perfectionism. Extraversion and optimism may be relevant as protective factors for Burnout, as well as, in general, the emotional competences Persistence/Perseverance and Resilience. As a way of intervening in burnout, it is proposed to continue the investigation of intervention strategies that are effective in improving emotional skills.